Palavras como o Vento


Há mais de dois meses tento escrever, nada. Pergunto-me onde estão as palavras. Um mapa, por favor. Porque não as encontro? Abundantes sempre foram, e agora, nada. Nem uma, uma sequer. Nem mesmo uma pequenina, muito menos uma proparoxítona. Aquelas mágicas que saltam, nem pensar. Foram, ou melhor, não foram, não vi. Se ao menos alguma passasse aqui por perto!… Nada.

Um mapa. Um que possa, que possa mostrar onde estão. Nem mesmo o mapa. Ninguém que possa me contar. Nem mesmo uma pista, um rastro, uma vírgula ou um ponto que indicasse que por ali poderia ter havido alguma.

Parei de tentar, comecei sentir mais. A dor, o amor. O frio, a paixão. A luz que ilumina a escuridão.

Parei de tentar, passei a pensar. Viajar. Onde estariam? Quero tanto! Mas agora, ainda nada. Só mesmo a buscar com o pensamento. Mas nada via. Sentia, mas doía. Dói. Sinto-me despojado de um lado que tanto preservo. Roubado? Talvez.

E as palavras? Dei a mão direita ao oeste, a esquerda ao leste na tentativa de me localizar, de então as encontrar. Os olhos úmidos fechei, que antes, nus, olhavam a imensidão. Tão só.

Na face, percebi o vento leve, suave, com toda sua mansidão. Entendi.

Bem como ele, só são percebidas as palavras quando em movimento. Por isso não as vejo, estão quietas, paradas, esperando. Esperando que o Sol brilhe, que a vida volte, que o sorriso se abra, que o coração aqueça, que o vento sopre. Continuam reclusas.

Acompanham o ritmo do meu universo. Aquele cheiro que não sai dos meus pulmões. As marcas que foram impressas naquela cama que de lá nunca sairão. O café da noite, o banquete vazio que sempre lá está. O coração, que de dentro não sai aquele sentimento tão grande, tão grande. A espera que sempre espera e nunca acaba. Tudo permanece em seu lugar, e as palavras também. Tudo permanece como está, e as palavras também. Esperam o momento que o mundo volte a girar. Aí, assim, elas podem voar, porque livres são. Livres como é meu universo, que por escolha própria se deu. E agora suspenso, é como aleluias após a chuva, voando em bando sem direção, buscando um voo breve, raso, que só se ergue quando um vento sopra, mas logo depois para. Voando contra a luz sem saber onde chegar.

Estão lá, cada uma em seu lugar. E eu aqui a esperar.

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3 respostas a Palavras como o Vento

  1. Léo Carvalhais diz:

    Lindo texto meu amigo!

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  2. Como diz a bela composição de Rogério Flausino:

    “Vivemos esperando
    O dia em que
    Seremos melhores
    Melhores no amor
    Melhores na dor
    Melhores em tudo…”

    Esperamos sempre….que palavras sacramentem os nossos sentimentos! Que traduzam sinais, olhares, gestos, anseios, angústias…

    As palavras que diz faltar-te, Amorinis, já disseram muito.

    Texto incrível…nas entrelinhas e nas estrelinhas!

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